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NATAL, por JOSÉ DE CAMPOS
N A T A L
Diz-se que o Natal é sempre que o homem quiser, mas é certamente mais Natal, na época que o calendário determina...
Em que há frio,
calor humano,
neve, uma lareira,
chuva, um agasalho,
frio nos pés, Missa do Galo.
Algum desengano, talvez enguiço,
azeite, bacalhau, couve e muito alho.
Doentes a sofrer,
pobres sem um tecto,
gente em sua terra,
soldados na guerra,
famílias felizes, outras nem por isso.
Uns que têm paz, outros solidão,
uns com abundância e muitos sem pão.
Montras enfeitadas,
lares sem aconchego,
montes de famílias em desassossego.
Bolos, filhoses,
um surdo clamor de pobres vozes,
desemprego.
Olhitos de criança, o Pai Natal,
prenditas no sapato, frio glacial,
muitas correrias, algum desacato.
Um olhar ao Céu, uma prece a Deus,
e quem é cristão a lembrar os seus.
Os nossos amores, que connosco vivem,
e os progenitores que nos deram vida,
e a qualquer momento estão de partida.
Os filhos dilectos a chegar a casa,
e os avós e netos a atiçar a brasa.
O cheiro dos fritos em cima da mesa,
e a triste lembrança de muita pobreza.
Um lar de abundância,
e a recordação de uma pobre infância,
e de alguns medos,
de um tempo passado com poucos brinquedos.
Lembranças da terra,
da massa a fintar na grande panela,
chama a crepitar, e cheiro a canela.
O madeiro em chamas, aquecendo a praça,
o calor no rosto da gente que passa,
o velho e o jovem que seus sonhos traça.
O menino nu em palha estendido, causa um arrepio,
mas, porque é divino, nunca sente frio.
É tempo de esperança, de uma nova aurora,
e se eu não me lembro,
digam-me agora,
quando é o Natal, se não em Dezembro?
José de Campos
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